Marcha do parto em casa

13 de abril de 2014 10 Por michelleprazeres

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Uma amiga resgatou hoje esta imagem, uma foto minha com o Miguel, tirada na Marcha do Parto em Casa, em 2012.  E aí, achei que valia a pena resgatar também esta nota, que escrevi na época da marcha, sobre o que acredito ser o direito da mulher: a escolha informada sobre o parto que quer ter.

Tempos depois, já este ano, tive oportunidade de escrever um artigo sobre violência obstétrica para o livro “A quem pertence o corpo da mulher”, junto com a minha amiga e também ativista da humanização, Jamila Maia.

Segue a nota.

Marcha do parto: um movimento pela liberdade de escolha!

13 de junho de 2012 às 21:55
Para ter de fato liberdade de escolha, é preciso ter informação. Só assim, a escolha é feita com dignidade, valor-chave de qualquer direito humano. Do contrário, não se trata de escolha, mas de constrangimento e imposição.

Por Michelle Prazeres*

Domingo, mulheres de todo Brasil faremos uma marcha pela liberdade de escolha. Queremos poder decidir onde parir. Aí, vocês me dirão: mas hoje, as mulheres não decidem? Não. A sociedade decide, o médico decide, o plano de saúde decide, o trabalho e o patrão decidem, o sistema de saúde falido do Brasil decide, a família decide, mas as mulheres não decidem! 90% dos partos no Brasil acontecem por meio de cesáreas.

Grande parte das mulheres é refém de um ciclo que as aprisiona numa condição de medo e, como consequência, de incapacidade. Você não vai conseguir parir, porque seu bebê é grande, porque tem uma doença venérea, porque tem pouco ou muito líquido amniótico, porque tem pressão alta, porque tem pressão baixa, porque tem diabetes, porque sua bacia é pequena, porque você é míope! São centenas de dezenas de argumentos mentirosos, mas que atuam diretamente em um medo construído socialmente de parir.

A construção social do medo de parir mereceria uma tese de doutorado. Onde começou? Por que as mulheres acreditam e se apegam a estes argumentos falaciosos?

Sim, as mulheres são historicamente colocadas neste lugar na sociedade. Mas igualmente sim há caminhos e possibilidades de sair deste lugar, se conhecer, se informar sobre a realidade dos partos, do seu próprio corpo, da gestação, enfim… conhecer-se para ter autonomia, dignidade e, finalmente, liberdade para dar à luz como bem entender.

Somos todas capazes de parir naturalmente. As cesáreas necessárias existem sim, mas são realmente necessárias em alguns poucos casos e emergências.

O problema é que as faculdades de medicina, o sistema de saúde falido, os conselhos de medicina e os próprios médicos transformaram a cesárea em uma solução valiosa, rentável e “moderna”. Para legitimar a segurança, a qualidade e a tranquilidade como valores relacionados a este procedimento, construíram um repertório que se tornou uma espécie de cultura na sociedade. Virou a “escolha natural”.

Mas há que se estranhar tudo, e mais ainda tudo que é considerado natural por esta nossa sociedade torta.

Antes que nos acusem de críticas da cesárea ou de que somos contra quem escolhe ter uma cesárea, nós somos a favor da liberdade de escolha, inclusive da cesárea. Mas a escolha só existe de fato com informação e conhecimento. E o que os médicos e o sistema de saúde tem feito é promover uma verdadeira campanha de desinformação pública para estas mulheres que, acuadas (e em muitos casos, acomodadas em relações de “confiança” com seus médicos), “optam” pelas cesáreas, muitas vezes agendadas, sem dar chance de o bebê entrar em trabalho de parto.

Sinceramente, não me conformo em saber que os médicos mentem para suas pacientes e que nada acontece com eles. Afinal de contas, eles – em tese – tem uma ética e não poderiam ludibriar seus pacientes ou conduzi-los a um procedimento cirúrgico desnecessário. Estes médicos é que deveriam ser cassados. E não médicos sérios, que apoiam a liberdade de a mulher escolher onde parir.

Antes que nos acusem de movimento de vanguarda, estamos simplesmente reivindicando um direito que nos foi usurpado e do qual muitas de nossas avós desfrutaram: ter nossos filhos como bem queremos! Seja em casa, no hospital ou onde for, mas sempre com dignidade, valor-chave de qualquer direito humano.

A marcha no FB: http://www.facebook.com/events/231581800293091/

Outros links de referência sobre o tema

http://www.cientistaqueviroumae.com.br/

http://www.maternidadeativa.com.br/

* Michelle Prazeres é jornalista, editora do blog Empreendedorismo materno e mãe do Miguel, que pariu como quis!