A jornalista que queria ser professora

24 de junho de 2015 Off Por michelleprazeres

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Perfil meu, escrito pelo aluno Guilherme Venaglia, para o site da pós-graduação em Jornalismo da Cásper Líbero.

Original aqui.

Entre a academia e os movimentos sociais, a professora Michelle Prazeres se propõe a discutir o jornalismo em tempos de cibercultura.

Por Guilherme Venaglia, do 2° ano de Jornalismo

Antes até de saber o que cursaria na graduação, Michelle Prazeres tinha uma certeza: seria professora. Depois de namorar as Letras e flertar com o Direito, o casamento veio com o Jornalismo, que cursou no Centro Universitário da Cidade (RJ) e concluiu em 1999. Por desejar ser professora, Michelle ficou surpresa ao tomar gosto pelo ofício da reportagem, trabalhando primeiro na própria faculdade e, depois, propriamente em redação, com a entrada no jornal Lance! no quarto período do curso. Na Gazeta Mercantil, onde atuou como trainee, foi destinada a um setor conhecido internamente como “Centro de Documentação”, onde fazia a pesquisa para os repórteres da redação, buscando os arquivos do jornal e, de certa forma, dando os primeiros passos em uma atividade na qual mergulharia tempos depois: a pesquisa.

Ainda pela Gazeta, Michelle foi transferida para Salvador, onde trabalhou na redação como repórter da Gazeta da Bahia e editora do site do jornal. Na capital baiana, ela passou também pelo jornal A Tarde (como freelancer) e pela Rádio Metrópole, na qual apresentava o programa matinal e tinha um programa de esportes. Trabalhou também para agências de publicidade, até que decidiu voltar para o rumo pensado antes mesmo da faculdade. Mudou-se para São Paulo e inscreveu-se no programa de Mestrado da Pontifícia da Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde desenvolveu a dissertação Redes glocais: articulação política e mobilização social na civilização midiática contemporânea, orientada pelo Prof. Eugênio Trivinho. Nesse período, iniciou seu primeiro trabalho em sala de aula, um curso de extensão na PUC-SP, baseado na temática “Comunicação e movimentos sociais”. O curso dialogava com sua prática acadêmica e também com sua atuação profissional à frente daAssociação Brasileira de ONGs, da ONG Ação Educativa e do coletivo Intervozes.

Já com o título de mestre em Comunicação e Semiótica, Michelle Prazeres iniciou em 2009 seu projeto de doutorado na Faculdade de Educação da USP (FE-USP). Sobre a transição, avalia como um processo orgânico: “Como pesquisadora da socialização, acredito que construímos nossa trajetória, mas ela também nos constrói. Fui para o Jornalismo querendo ser professora, mas, quando eu volto para São Paulo e vou trabalhar com ONGs, me convidam para uma área específica da Educação, a Ação Educativa, onde trabalhei durante dez anos e sou hoje parte da diretoria. É um movimento dual: eu construí isso, mas, ao mesmo tempo, estar lá me proporcionou esse caminho”.

Afastada da docência por um período em função da maternidade, realizou em 2013 a defesa de sua tese de Doutorado A moderna socialização escolar: um estudo sobre a crença nas tecnologias digitais e seus efeitos para o campo da educação, que teve como orientadora a Profa. Maria da Graça Jacintho Setton. O trabalho analisa o repertório sobre inovação da educação, construído com base na crença nas tecnologias.

Ao comentar sua produção bibliográfica e acadêmica, mais precisamente os três livros que publicou, a docente afirma que educação, comunicação e direitos humanos constituem o tripé da sua trajetória. “Tem também o feminismo que me acompanha, assim como a educação popular, pela minha prática, que é dialógica, na linha da reflexividade”, diz. A professora acredita que as publicações são fruto de sua presença tanto na academia quanto nos movimentos sociais, e que uma atividade rende estudos e discussões que ecoam nas outras, em um processo de retroalimentação.

Sobre Novas Tecnologias da Comunicação, disciplina que leciona na graduação em Jornalismo e cujas turmas divide com a professora Bianca Santana, ela acredita que a diferença de lecionar na graduação está no espaço para o trabalho experimental. “Gosto de saber que ideia de jornalismo eles têm, explorar as possibilidades de conversa sobre os temas que marcaram a semana, muitas vezes abrindo espaço para que as aulas nasçam dessa discussão”. Na pós-graduação, a docente acredita que a Cásper realiza o que se propõe a fazer: ser referência na sua área de atuação. Valoriza os esforços em construir um curso orgânico, que se propõe a discutir as transformações da atividade, a fazer uma reflexão sobre o Jornalismo.

Quanto à disciplina que leciona, Jornalismo e Mídias Digitais, conta que, ao entrar em sala para trabalhar com ela pela primeira vez, no segundo semestre do ano passado, procurou conversar com os alunos e definir, a partir das expectativas deles, o programa que lecionaria. Entre os tópicos que discute com a turma cita as reportagens multimídias, o newsgaming, o empreendedorismo e modelos de negócios. “Eu estruturei um programa em que eu falo primeiro de cibercultura e de cultura da convergência, uma reflexão teórica. Partindo, depois, para temas mais específicos.”

Michelle propõe-se a discutir o “Jornalismo em condição de cibercultura” que, se apressa em frisar, é diferente de Jornalismo Digital, sendo este a atividade jornalística na rede, enquanto o primeiro parte do entendimento de que a cibercultura é uma cultura de época, baseada nas tecnologias, mas que incide em todas as práticas e dinâmicas sociais, entre elas, o Jornalismo. “As novas tecnologias proporcionam uma reconfiguração social, que abrange também o jornalismo que não é digital”. E é com base na consciência e na natureza de educadora, com a constante interlocução com o tripé que marca toda sua trajetória, suas três áreas e seus afluentes, trabalhando com base no diálogo e na construção coletiva, que Michelle Prazeres engrandece a comunidade casperiana, proporcionando discussões e reflexões a cada semana, na graduação ou na pós.