Por um mundo que valorize a disponibilidade.
Somos gentes e não máquinas.
O tempo não é um recurso.
Antônio Candido disse: “O tempo é o tecido da vida”.
Em comunidades de povos originários e em algumas tradições africanas, o tempo não é compreendido da forma cronológica como nós compreendemos no ocidente.
A ocidentalização do tempo é uma das raízes da violência que é a ideia de que o tempo anda só pra frente.
Ailton Krenak afirma que esta é uma das raízes de nossa sociedade acelerada. A ideia de que o tempo é uma flecha.
Ela está na origem das noções de avanço, progresso, desenvolvimento e crescimento que nos trouxeram até aqui.
Então que tal cultivarmos a ideia de que o tempo é esse enigma maravilhoso e que precisamos mover nossa compreensão sobre o tempo se quisermos mover estruturas adoecedoras e que nos aceleram?
Eu trabalho para demover mitos que reproduzimos cotidianamente e que reproduzem culturas aceleradas sem a gente perceber.
Um destes mitos é a indisponibilidade.
A indisponibilidade está enraizada na ideia de que o tempo é um recurso escasso.
Veja bem. No mundo tal qual ele está, isso é uma realidade. E provavelmente, quanto mais marcadores sociais de desigualdade te atravessam, mais escasso é de fato seu tempo.
Não estou negando esta realidade.
Apenas afirmo que para transformá-la, precisamos mudar realidades, mentes e culturas.
Porque a desaceleração não é uma saída individual, mas coletiva. E caminha de mãos dadas com outras soluções sistêmicas como o decrescimento e o bem viver.
Mesmo com tempo escasso, não precisamos glorificar a hiperocupação como status.
Vamos começar a mudar a forma como vemos e entendemos o tempo e a aceleração?
Não é bonito ser indisponível.
Cultivemos a disponibilidade como coisa bela de se ser.