Por um mundo que valorize a disponibilidade. 

Por um mundo que valorize a disponibilidade. 

23 de setembro de 2024 Off Por michelleprazeres

Somos gentes e não máquinas. 

O tempo não é um recurso. 

Antônio Candido disse: “O tempo é o tecido da vida”. 

Em comunidades de povos originários e em algumas tradições africanas, o tempo não é compreendido da forma cronológica como nós compreendemos no ocidente. 

A ocidentalização do tempo é uma das raízes da violência que é a ideia de que o tempo anda só pra frente. 

Ailton Krenak afirma que esta é uma das raízes de nossa sociedade acelerada. A ideia de que o tempo é uma flecha. 

Ela está na origem das noções de avanço, progresso, desenvolvimento e crescimento que nos trouxeram até aqui. 

Então que tal cultivarmos a ideia de que o tempo é esse enigma maravilhoso e que precisamos mover nossa compreensão sobre o tempo se quisermos mover estruturas adoecedoras e que nos aceleram? 

Eu trabalho para demover mitos que reproduzimos cotidianamente e que reproduzem culturas aceleradas sem a gente perceber. 

Um destes mitos é a indisponibilidade. 

A indisponibilidade está enraizada na ideia de que o tempo é um recurso escasso. 

Veja bem. No mundo tal qual ele está, isso é uma realidade. E provavelmente, quanto mais marcadores sociais de desigualdade te atravessam, mais escasso é de fato seu tempo. 

Não estou negando esta realidade. 

Apenas afirmo que para transformá-la, precisamos mudar realidades, mentes e culturas. 

Porque a desaceleração não é uma saída individual, mas coletiva. E caminha de mãos dadas com outras soluções sistêmicas como o decrescimento e o bem viver. 

Mesmo com tempo escasso, não precisamos glorificar a hiperocupação como status. 

Vamos começar a mudar a forma como vemos e entendemos o tempo e a aceleração? 

Não é bonito ser indisponível. 

Cultivemos a disponibilidade como coisa bela de se ser.