Amamentar na primeira hora

3 de setembro de 2014 12 Por michelleprazeres

amamentarRelato que escrevi para a iniciativa “Amamentar é natural“, postado no blog “Mãe com filhos”.

“Antes mesmo de engravidar, eu sonhava em amamentar. Meu trabalho de parto durou quase 24 horas e durante todo este tempo, só sonhava em pegar o Miguel nos braços e aleitá-lo. O final foi tenso, em função do cansaço meu e dele e de outros fatores que não vem ao caso, mas ao final de todo esforço, ele veio para os meus braços e mamou. Sou capaz de fechar os olhos e me lembrar deste exato momento. O mais memorável de minha vida. Miguel mamou e eu – que não havia chorado até então -, me debulhei em lágrimas. Era mais que um sonho realizado. Era a nossa reconexão: a primeira neste mundo de ar, após ele sair do mar de água, alimento, calor, amor e paz que é o útero. Lembro de meu marido ao nosso lado, assistindo à cena e emocionados, nos abraçarmos. Fernando é meu cúmplice no sonho da amamentação. Foi assim desde a gravidez (quando a gente cisma que tem que fazer preparação quando, na verdade, não precisa nada!) e assim tem sido até hoje. Miguel completa dois anos no próximo dia 28. São dois anos de aleitamento em livre demanda possível. Ou seja: sempre que ele está comigo e quer mamar, ele mama. Seja em casa, em locais públicos, onde for! Foram seis meses e meio de aleitamento exclusivo para chegarmos à maturidade para a introdução de sólidos. Até hoje, a hora de mamar é um momento só nosso, de muito encontro. Lembro que no começo, meu desejo de amamentar era tanto, que meu corpo respondeu a ele: produziu leite em excesso, o que me trouxe problemas, como empedramentos e inchaços, que eu resolvia com ordenha e soluções naturais, como compressa fria. Quando Miguel tinha 8 meses, foi para o berçário, porque voltei a trabalhar. Eu ordenhava meu leite diariamente e tirava 150 ml para mandar pra ele na escola. Mandei até ele completar um ano. Hoje, ele se alimenta de derivados, como iogurte e queijos, mas nunca tomou outro leite que não o meu. Em muitos momentos, me sinto cansada e esgotada. Não é fácil amamentar tanto tempo e precisei de apoio de muitas pessoas para chegar até aqui. Mas é um trabalho gratificante e enobrecedor. E antes que digam que é aprisionante, sim, é difícil, repito, mas é libertador. Amamentar faz parte de um intenso processo de autoconhecimento que resulta na capacidade de doação incondicional que é colocar seu corpo à disposição de outro ser humano. E isto é enobrecedor, engrandecedor. E, sim, libertador! Costumo dizer que mais do que nutrição, leite materno é amor líquido. Revolução em gotas. Sim, porque uma das chances de mudar o mundo está na possibilidade de criarmos nossos filhos com amor. Viva la teta!”