Um chamado ao fazer nada
No mundo da comunicação digital, existe esta expressão “call to action”, que virou, basicamente, uma grande regra para quando você produz um conteúdo e quer fazer um convite à ação para as pessoas que o acessam. No final do conteúdo, precisa ter um “call to action”, se você quiser “fisgar” aquela pessoa leitora para seus canais ou para ser um fiel seguidor.
Eu trabalho com isso, e venho construindo há algum tempo uma discussão sobre qual a comunicação suficiente. Te convido a ler aqui o relatório da minha pesquisa de pós-doutorado sobre comunicação slow e cultura da velocidade.
Isso se conecta com a ideia de uma comunicação mais estratégica, que olha mais a longo prazo, mas não se limita a isso. É uma comunicação consciente, que acontece a partir do desejo e da missão e do caminho que uma empresa ou organização quer seguir e que indica também para que horizonte sua comunicação deve apontar.
A parte difícil desta história é que poucas empresas e organizações entram em contato com seu real desejo de ação ou transformação no mundo. E aí, uma comunicação equivocada é apenas o sintoma de um equívoco mais amplo, de estratégia e de execução. Em vez de mergulhar fundo nos seus desejos (de marca, reputação, parcerias, relacionamentos), o mais comum é que a marca apenas “vá fazendo” tudo que existe em comunicação: cria site, faz blog, cria canais de redes sociais; e se mata de trabalhar para alimentar estes canais sem saber muito bem para o que cada um serve.
E aí, quando percebe, está fazendo “call to action”, sem ter a menor ideia se esta action tá atendendo ao desejo de reputação.
A vida é assim com a gente também. A gente entra numa espiral de automático e quando vê nem sabe muito bem porque está indo. Apenas vai. No automático, anestésico, ininterrupto. Por isso que o que eu desejo para nós neste final de ano é um call to nothing. Um chamado ao nada, ao descanso, à desconexão, à pausa.
E não, porque precisamos descansar para sermos mais produtivos. Mas, porque precisamos descansar por sermos gentes e não máquinas.
Escrevi este texto inspirada nas trocas que tive por aqui com Carol Delgado, Clarissa de Moraes Kowalski e na ideia genial de “call to nothing” de Luciane Motta.